sábado, 18 de janeiro de 2014

Tiro certeiro

Acordo depois de uma noite conturbada. Pesadelos, sonhos e delírios me atormentaram madrugada adentro. A primeira coisa que escuto do meu namorado é que o chamei durante a noite e soltei um firme "é isso mesmo!". Não foi uma afirmação sonolenta, mas uma constatação direta e impaciente. Típico da minha rotina de professora da educação básica. O maloqueiro me interpela e solta uma piada infame em meio ao tumulto da aula. Digo que "é isso mesmo!" e pronto. Acabou. Agora é esperar até o final do mês para receber os meus dois salários mínimos de direito. Pouco menos de 1.500 reais com os descontos, líquido, não são suficientes nem para manter uma dieta balanceada. Não posso me dar ao luxo nem de comprar uns morangos no sinal de trânsito. Decadência. Mal coloco o pé para fora da cama e escuto três estrondos. Fogos ou tiros? Mais um, dois, três, quatro. Sete disparos no total. Ligo o rádio imediatamente. Toca uma música internacional romântica no dial. Me irrito. Vou pra internet e os blogues me atualizam do acontecido. Uma briga num bar. Dois morreram por arma de fogo. Um está hospitalizado. Fora ferido por uma arma branca. Provavelmente uma peixeira. Vou fazer café. Enquanto corto o pão, o café esfria. Saio para o trabalho. Ao entrar em sala de aula, não encontro um dos maloqueiros que tento sutilmente relevar todos os dias. Todo o sangue do meu corpo corre para as extremidades. A mão gela. Os pés adormecem. Minha vida mais parece um filme de Alejandro Gonzales-Iñarritu.

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