quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Eu mato

Paulinho era um menininho rechonchudo e cheio de graça.
Cabelinhos loiros repartidos de lado, bota-patins e um macacãozinho jeans com botões vermelhos eram sua marca registrada.
Aos quatro anos ainda fazia xixi nas calças. Cedo do dia, a mãe já estava a colocar o colchão no sol. Gostava de carros, especialmente de fuscas e caminhões. Um dia, nas férias de 79, seus pais decidiram levá-lo para o sítio. Os ares do campo, a fauna, a flora e os bichinhos soltos e serelepes fariam bem ao desenvolvimento cognitivo de Paulinho. Ainda na estrada, mamãe tirou sua bota-patins. Depois tirou o macacãozinho e deixou o menino só de cueca. Ao chegar no sítio, enquanto seus pais cumprimentavam Vovó Deolinda e Vovô Paulo, Paulinho partiu para desvendar o novo ambiente. Descalço e de cuecas, deu alguns passos entre a grama e o barro seco. Perto da cerca encontrou uma enxada enconstada. "Brinquedinho rudimentar este", pensou o menino, numa concatenação de ideias que faria inveja a muitos adultos. Paulinho saiu com sua enxada rumo ao galinheiro e, num rompante de destreza e coordenação motora, decepou o pé de Maricotinha (a galinha predileta da sua avó). Diante dos gritos solidários das galinhas, papai, mamãe, vovô e vovó sairam em disparada na direção do galinheiro. Em meio aquela cena de filme B, Papai e mamãe pegaram Paulinho pelo braço e entraram correndo dentro do carro, mergulhados num misto de vergonha e desespero. Voltaram para a casa no mesmo instante. Paulinho era urbano demais!

sábado, 10 de janeiro de 2009

Próspero ano novo

Já tenho o maiô, a touca e os óculos. Só falta a piscina.
Renovei o passaporte e tenho um visto com 2 anos de validade. Só faltam as passagens.
Tenho uma receita azul de fluoxetina, florais de bach e um disco de Nick Drake. Só falta a serotonina.
Tenho um quintal grande, esterco , sementes e alguns jarros. Só falta a coragem.
Tenho quase tudo. Quase tudo não é tudo.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Dois mil - inove!

Hoje é o meu aniversário.
Cinco anos de muito furor e jovialidade
De vez em quando gosto de fumar uns cigarros e soltar umas baforadas de nicotina e alcatrão numa orquídia branca que eu crio na varanda.
Hoje é o meu aniversário e, dolorosamente, eu detesto anos novos. Acho que e.e Cummings também era assim. Gozado. Estranho. Estranho é legal. Eu gosto do estranho. Mas canhestro é ainda mais portentoso. Unheimlich. "Boneca de pau", grita o excêntrico. "Olho de vidro", grito eu, no auge dos meus cinco e insanos anos.