quinta-feira, 9 de julho de 2009

Suscetibilidades s/a

Janete é meio obssessiva-compulsiva. Um tempo desses só conseguia entrar no carro se o disco de Chico César estivesse no som. Ela ouvia até aquela fase reagge night, que nem o próprio cantor cabeça de cotonete consegue aturar. Depois entrou numa de só escutar Pixies. Gostava daquele disco, Doolittle. Eventualmente colocava o Surfer Rosa no play. Ouviu tediosamente por anos a fio. Talvez por revanchismo, porque na época ela andava com uma rapaziada que fazia odes e odes ao Dark Side of the Moon. Ela achava que tanta vinheta esquisita dava vontade de fazer cocô. Até o The Final Cut, restos do The Wall, eles idolatravam!
Janete mergulhou tanto nessa paranóia anti-Pink Floyd que tava até gostando do Breeders e do Frank Black fazendo música folk maluquete. Até o dia em que a banda se reuniu novamente, fez uns dois shows antológicos no Brasil, e Janete perdeu. Não sei se foi a frustração, o desespero dos 30 batendo à porta ou o fardo de carregar uma identidade fragmentada, mas Janete agora só quer saber do Mars Volta. Acho que no fundo isso é pura paixão platônica pelo vocalista rebolativo, andrógino e feiosinho do Mars Volta. Janete sempre teve uma concepção excêntrica de sexy appeal.
Depois do trauma "Death to Pixies", Janete anda mais e mais obscura e sinuosa. É um papo de Animal Collective pra cá, The Battles pra lá. Mas no fundo, no fundo mesmo, o que mexe com Janete é o romantismo do Maná. É bonitinho ver como ela se derrete quando começa "Cuando los angeles lloran". Seu coração se enche de doçura. E "Mariposa Traicionera"? Ela se arrepia toda no primeiro riff e depois sai querendo dançar loucamente, igual a Beyoncé no clip de "Single Ladies". A queda é tão grande, que ela se debandou para um congresso em Guadalajara, gastando seu pobre dinheirinho, só pra ver se encontrava Fher Olvera comendo churros e tomando suco de tamarindo no meio da rua. Janete não se importa se o vocalista do Maná mais parece um cruzamento de Cid Guerreiro (aquele mesmo que compôs Ilariê Ô Ô) com Luiz Caldas. No final das contas, Janete sabe que não tem banda post-avant-prog-salsa-fusion-rock que barre a meiguice fulgurante do Maná.